A teoria do apego foi desenvolvida pelo psiquiatra infantil e psicanalista inglês, John Bowlby (1907-1990), tendo por base os campos das teorias psicológicas, evolutivas e comportamentais. Bowlby acreditava que os seres humanos nascem com uma inclinação para serem sensíveis às interações sociais e necessitam delas para um desenvolvimento saudável.
Assim, Bowlby frisou seus estudos nas consequências do cuidado parental na vida da criança – durante seus primeiros anos de vida – e como a qualidade desse cuidado pode interferir nas relações vividas pelo sujeito na vida adulta.
Figura e comportamento de apego
Inicialmente, apego pode ser compreendido como o conjunto de comportamentos do bebê que se caracteriza não somente pela busca de proximidade física do cuidador, mas também pela exploração do ambiente (PONTES et. al., 2007. p. 4). Para Bowlby o apego consiste em uma ferramenta fundamental para a sobrevivência humana.
Substituindo o termo cuidador por figura de apego, podemos imaginar uma pessoa pela qual a criança constrói maior vínculo nos primeiros anos de vida e que se caracteriza por ser apta, disponível e responsável para exercer esse papel. Que seja, sobretudo, sensível e acolhedor, capaz de oferecer proteção e afeto. Essa figura pode ser representada por qualquer pessoa, mas geralmente é relacionada pela figura aos progenitores (DALBEM et. al., 2005 p. 4)
É comum presenciarmos nos seres humanos, comportamentos ou padrões de comportamentos para se sentirem amados, aceitos ou respeitados. Esse fenômeno também foi estudado pela teoria do apego, onde se chegou a conclusão de que as pessoas tendem a orientar suas atitudes para manter ou conquistar proximidade como outras pessoas que lhes passam uma identidade de mais capacitado para lidar com as questões da vida (BOWLBY, 1989 apud. DALBEM, 2005 p. 5)
Apego seguro x Apego inseguro
Como forte pesquisadora na área, a psicologa norte americana Mary Ainsworth foi a idealizadora do instrumento para coleta de aspectos qualitativos do padrão de apego infantil, que ficou conhecido por “Situação do Estrangeiro”. Com base nos dados obtidos, classificou as crianças em seguramente apegadas e inseguramente apegadas (PONTES, 2007).
As primeiras, crianças seguramente apegadas, manifestam ações menos aversivas tanto na presença quanto da ausência do cuidador, por te-lo como figura disponível; já as inseguramente apegadas, no entanto, apresentam comportamentos mais aversivos tanto na presença quanto na ausência do cuidador, por tê-lo como figura indisponível ou distante.
Ainsworth (1989) afirma que os padrões de comportamentos de apego são relevantes para delimitar o atributo do apego (DALBEM, 2005) e podem ser representados tanto pela forma acolhedora quanto pela forma aversiva, como já foi visto, por meio da criança ou de qualquer indivíduo em diversas faixa etárias.
Modelos
Embasado nas pesquisas feitas pela equipe de Bowlby e Ainsworth (1989) foram delimitados quatro modelos de funcionamento (workings models). Esses modelos/padrões, são fundamentais para orientar nossos relacionamentos com um parceiro, em grupos de amigos e até com nosso próprio eu. Além disso, influenciam nossa opção (ou não) pela parentalidade e até mesmo nossa atuação profissional (DELBEM, 2005). Dessa forma, os modelos descritos na teoria do apego são os seguintes: padrão seguro, padrão ansioso, padrão evitativo e padrão desorganizado.
O Padrão seguro condiz com o relacionamento cuidador-criança vindo de uma base segura, na qual a criança teve ampla possibilidade de explorar seu ambiente de forma entusiasmada e motivada. Além disso, quando estressadas, mostram confiança em obter cuidado e proteção das figuras de apego, que agem com responsividade (DELBEM, 2005).
As pessoas que desenvolvem esse padrão de apego podem se afetar com alguma situação de separação ou perda durante a vida, mas são suficientemente autônomas para não se abaterem de forma exagerada. Conseguem, desse modo, lidar com essa situação sendo conscientes do que lhes ocorre e de seus desdobramentos.
O padrão inseguro ansioso (ambivalente) revela crianças que mostram limitado
comportamento exploratório, quando expostos a um ambiente. Essas crianças, frequentemente, demonstram aflição e choro diante da separação. Já no reencontro, exibem uma mistura de raiva e busca por proximidade – além do fato de seus cuidadores não conseguirem confortá-los ou acalmá-los (PONTES, 2007).
Pessoas com esse padrão podem demostrar comportamentos de apego e dependência excessiva em relação ao parceiro(a). Dessa forma, enfrentam uma redução nas opções de alegria e felicidade, comprometendo assim as possibilidades em outras áreas que também são importantes para seu crescimento pessoal (RISO, 2008 apud. RODRIGUES, 2010).
As crianças com padrão inseguro evitativo (esquivo) comportam-se de modo semelhante na presença do cuidador e do estranho. Na separação, são indiferentes aos primeiros e no reencontro não buscam conforto neles, colocando-se em posição contrária a eles ou movendo-se na direção oposta (PONTES, 2007).
Esse padrão pode apontar para adultos que em seus relacionamentos tem dificuldade de responder as necessidades de seu parceiro. Se no padrão ansioso a dependência e a profunda doação ao outro são marcas fortes, no padrão evitativo o indivíduo presa por independência de forma excessiva, já que possui certa aversão à proximidade. Com isso, tal padrão pode ocasionar o enfraquecimento da relação, por colocar o parceiro em uma posição de “não importante”.
Na presença dos cuidadores, antes da separação, as crianças com padrão desorganizado (desorientado) podem exibir um comportamento constante de impulsividade, que envolve cisma durante a interação expressa por brabeza ou confusão facial, ou expressões de transe e perturbações.
Esses casos aparecem, frequentemente, em situações de abuso nas quais o cuidador, ainda que sendo uma figura externa, simboliza uma fonte de medo e ameaça à criança. Logo, esse padrão é comumente associado a fatores de risco e a maus-tratos, podendo indicar determinados transtornos ou distúrbios nos cuidadores (DELBEM, 2005).
Modelos são construídos e reconstruídos a todo tempo
“Então quer dizer que estou destinado a viver um relacionamento inseguro (esquivo ou ansioso) caso identifique que houve em minha história situações de apego inseguro? Como se uma força incontrolável me levasse a agir como tal?” – talvez você pense isso ao chegar até aqui, mas não é assim que a história termina.
A teoria do apego, como tantas outras desenvolvidas, não tem por objetivo limitar o ser humano a um só padrão de comportamento. Pelo contrário, objetiva levantar um conhecimento e tê-lo como base para um possível desenvolvimento. Afinal, não se modifica algo a respeito do qual não se tem o devido entendimento.
A melhor resposta, então, seria: a decisão é sua! Sim, embora muito de sua personalidade e de seus comportamentos tenham tido forte influencia do modelo parental ao qual você foi exposto, ele não pode determinar, inteiramente, quem você escolhe ser.
Muitos são os fatores e as experiencias que nos moldam ao longo da vida, capazes de orientar nossas escolhas numa direção e não em outra, fazendo com que nossas emoções e comportamentos, numa relação sentimental, sejam de um tipo dependente ou não (RODRIGUES et. al., 2010. p. 6)
Dialogue consigo mesmo
Com base nas informações adquiridas, é importante expandir o conhecimento sobre o tema. Busque um diálogo sincero com você mesmo e tenha como objetivo “o entendimento do que se esconde por trás desses comportamentos”.
Por exemplo, se sinto demasiado ciúmes do meu parceiro(a) devo me questionar se esse sentimento não está tentando revelar-me alguma ferida relacionada a um possível abandono infantil – que precisa ser cicatrizada. Ou então, se pareço sentir medo ou desconforto ao ser amado pelo meu parceiro(a), devo igualmente me questionar se tal sentimento não é fruto de necessidades infantis nunca atendidas.
Caso se consiga identificar o processo, relativizá-lo se torna mais fácil (GRÜN, 2013. p. 40), visto que tal desejo não é real e pode trazer fortes prejuízos as diversas relações afetivas.
Referências
PONTES, Fernando A. R. SILVA, Simone S. C. GAROTTI, Marilice. MAGALHÃES, Celina M. C. Teoria do apego: elementos para uma concepção sistêmica da vinculação humana. Universidade Luterana do Brasil. Canoas, Brasil. Aletheia, núm. 26, julio-diciembre, 2007, pp. 67-79.
RODRIGUES, Soraia. CHALHUB, Anderson. Amor com dependência: um olhar sobre a teoria do apego. Centro Universitário Jorge Amado, Brasil. 2010.
DALBEM, Juliana Xavier; DALBOSCO, Débora Dell’Aglio. Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arquivos Brasileiros de Psicologia, vol. 57, núm. 1, 2005, p. 12-24. Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, Brasil. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=229017444003.
GRÜN, Anselm. Jesus como terapeuta: o poder curador das palavras. Tradução de Markus A. Hediger. 3 ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2013.